sábado, 13 de julho de 2013

Velho - Entrevista



Opa galera, beleza? Como vocês percebem, não é de costume do blog fazer entrevistas com as bandas nacionais, bem estamos pensando em aprimorar esse ramo nos últimos dias, hoje trazemos a vocês uma entrevista exclusiva com Thiago Caronte, fundador da banda de Raw Black Metal, Velho. Comecemos...


1 - Como você, Thiago Caronte, define o Velho? Quem foram os fundadores?
Até bem pouco tempo atrás eu aproveitava as apresentações ao vivo para dizer que o Velho não era uma banda, que éramos amigos reunidos em culto ao caos. Por volta de 2008 pra
2009 eu comecei a frequentar a casa do Thiago Splatter, onde temos um estúdio, a fim de testar os primeiros riffs de um projeto meu, que a principio não iria nem tocar ao vivo.
Eu não aprendi a tocar bateria, também não conhecia ninguém que entendesse do som por perto pra gravar. Eu soube que estavam rolando ensaios do Twilight Burial e resolvi
comparecer pra ver como minhas músicas ficavam com bateria. Então, mais ou menos nessa mesma época fria de 2009, Thiago Splatter e eu fundamos o Velho.


2 – Qual o nome dos demais membros da banda? como a banda surgiu? quais dificuldades vocês passaram para divulgar o som?
Quando o ano de 2009 começou a esquentar outra vez, Valéria Tenebra entrou na outra guitarra e Raphael Chaos do Twilight Burial pegou o baixo. Com essa formação gravamos o "Vida
Longa ao Primitivo" e fizemos nossa primeira apresentação ao vivo. Depois disso, passamos todo o ano de 2010 sem nem sequer se encontrar e só voltamos a nos reunir para tocar
num show ao vivo em Juiz de Fora, em abril de 2011... Mas voltamos como um trio: Rafael Lopes do Lástima no baixo, Thiago Splatter na bateria e eu na guitarra e vocal. Até hoje
o Thiago Splatter e o Rafael que cuidam de tudo que requer organização. Quando eles insistiram para que virássemos uma banda que se apresenta ao vivo eles praticamente me
colocavam no palco bêbado, plugavam e arrumavam tudo para mim, pra que eu executasse as músicas. Eu não vejo muitas dificuldades em divulgar o som... com a internet muita coisa
mudou... não mostra um som quem não quer... minhas trocas emocionais com a humanidade estão todas em dia. Componho e executo essa arte para trocar emoções íntimas com um
determinado círculo de pessoas que considero a humanidade, daí isso tomou proporcões maiores espontaneamente... bastante gente tem me procurado pra elogiar o trabalho... Fizemos
mais de 15 apresentações nesses 4 anos... Então pouco a pouco temos nos tornado uma banda. Essa entrevista até me animou de fazer uma página no facebook sobre essa tal banda
"Velho". Nunca movi uma palha de esforço em divulgar nada disso... Fizeram o myspace... colocaram no youtube... eu já fui até contra isso no início, mas pouco a pouco tenho
visto a importância divulgar o som e de dialogar com gente que nem conheço, de ir a lugares distantes pra tocar meu som, ficar bêbado em lugares diferentes... tem me feito bem.
Tenho me animado com a idéia de participar da vida, voltar a cena... A Cianeto Discos do Rio Grande do Sul, aliada a outros selos de amigos está lançando nosso primeiro material
este Inverno, um split contendo nossos dois EPs, "Vida Longa ao Primitivo" (2009) e "Senhor de Tudo" (2013), ambos nunca lançados oficialmente. Neste momento estamos ansiosos
pra caixa com as cópias chegar logo pelo correio. Isso deve acontecer em Agosto.


3 – Sobre o processo de composição, o que os influencia para compor?
Você tocou num ponto essencial. Pois a banda não existe pela simples vontade de se ter uma banda... mas pelo fato de eu sempre ter sons novos pra gravar... sou um cara
inspirado... As letras deixam essa intenção bem clara: quero dizer coisas pras pessoas. Uma vida caótica de experimentos obscuros, aplicação filosófica, de longas estradas e
aventuras, de danação e prazer permanentes... tudo isso também me influencia para compor. A magia negra e o simbolismo arcaico no ocultismo também me inspiram... os conceitos de
caos me inpiram. Estados alterados de consciência nos inspiram bastante também. O processo de composição no Velho atualmente é constante... Desde o fim do último Verão estou com
o Thiago Splatter quase todos os fins de semana... de sexta a domingo, tocando, bebendo e vendo filmes de terror. Estamos sempre reunidos escutando um som e conspirando. Isso
vai gerando uma intimidade e um entrosamento essencial aos músicos, coisa que ocorre naturalmente em nosso cotidiano. Além dos sons do Velho, a gente aproveita os equipamentos
ligados para tocar outros projetos. E assim se desenrolam horas e horas de ritual na nossa crípta mágika, o estúdio do albergue. É mais ou menos assim que funciona.


4 - Qual a visão que vocês tinham antes de criar o velho? Onde foi a primeira apresentação da banda e qual foi a reação do público quando vocês estavam tocando?
Muita coisa aconteceu antes do Velho. O Thiago Splatter eu conheci em 2004, quando ele estava revolucionando o cenário local da nossa amada Duque de Caxias com seus Noise
Splatter Gore Porn Grind do caralho... começaram a circular por nossas jovens mãos vários lançamentos cheios de carne, sangue e putaria grotesca... uma porrada de shows
insanos... Ele é praticamente um dos maiores responsaveis pela disseminação da anti-musica por aqui. Daí ele fundou o Twilight Burial em 2007, e começou a tocar bateria desde
então... De uns poucos anos pra cá é que fomos nos aproximar mais e nos tornar amigos próximos. O meu envolvimento com o Black Metal remete a virada do milênio, quando a mística
em torno desse assunto era totalmente outra. Com o fim do Dark Forest (minha primeira banda 2001-2003), eu cheguei a gravar um som sozinho, em 2005, num estúdio improvisado em
casa. Era um som numa linha menos raw, mais ambiente... lançado como Ymber Autumnus, saiu numa coletânea francesa em k7 e num split 5-way lançado pela Krustolav Productions.
Minha visão não mudou muito de lá pra cá. Desde que temos nos tornado uma banda, estou tentando me adaptar ao novo formato da cena, que é essencialmente virtual (nenhum problema
nisso, mas tenho pouco tempo pras redes pra ficar num computador em constante manutenção de contatos e negócios de merchandising, eu só gosto de tocar e gravar).
A nossa primeira apresentação ao vivo foi praticamente uma cerimônia...Eu já não tocava ao vivo desde o fim do Dark Forest em 2003 e havia consideravelmente deixado de ir a
eventos... minha irmã conseguiu me tirar de casa certa vez em 2007 pra assistir ao Sarcofago aqui no Rio... fora isso eu nem sabia o que estava acontecendo. Então, subir ao
palco naquela ocasião, revendo vários amigos e irmãos de longa data reunidos ali outra vez foi algo realmente especial... Nós invocamos forças do Oeste para aquela noite,
abrimos pro Miasthenia, e foi a nossa guitarrista na época, Valéria Tenebra, quem organizou o evento por conta própria... o Kulto Austral, em Dezembro de 2009, uma noite entre
muitas.

5 – Sobre os conceitos “Vida Longa ao Primitivo” e “Senhor de Tudo”, como vocês chegaram a isso?
"VIDA LONGA AO PRIMITIVO" é para mim uma exaltação ao velho modo de gravar black metal, um culto a captação de ensaio, o chamado tecnicamente: overall. Ou pode ser um chamado ao
atavismo... uma volta aos tempos pré-históricos da humanidade e seus ritos. Já "SENHOR DE TUDO" possui uma abordagem um tanto mais filosófica, acerca do domínio ou controle da
própria realidade... a faixa título desse EP tem uma letra que fala acerca do que eu quero dizer. Vocês poderão ler em breve.


6- Sobre as capas, como chegaram a tal resultado? Quais as inspirações?
Fui eu mesmo quem desenhei ambas as capas. Aquele homem morto na capa de "Vida Longa ao primitivo" me parece alguém que morreu contemplando um lugar bucólico, morreu bebendo e
ficou por ali, esquecido. Na capa de "Senhor de Tudo" podemos ver três mulheres num ritual que envolve o cadáver daquele homem. Estão conjurando algo maléfico. É tudo o que dá
pra dizer sobre essas capas: que algo morreu e algo revive.


7 – Fale um pouco sobre sua visão acerca da cena brasileira.
Desculpe, cara, mas nessa época em que vivemos, dadas as condições pós-modernas de comportamento, nenhum grupamento humano é lá muito confiável. Isso não é culpa do
funkeiro, nem dos headbangers... é o problema do convívio massivo que você vai encontrar em qualquer gênero ou tipo de gente. Na minha visão, o excesso não serve para nada. Tem
uma banda a cada esquina nesse mundo e eu só tenho tempo e vontade de escutar os mesmos discos de sempre. Sou de uma época que se escutava uma coisa de cada vez por semanas, não se adquiria conhecimento infinitamente, como se faz pesquisando no youtube... Nunca entendi quem LUTA pelo CRESCIMENTO da Cena. Meu som não fala de glórias nem vitórias... meu som fala de decadência e fim, de doença, de raiva e de uma consciência irreversível. Primeiro é bom revermos o conceito de cena, porque existem infinitos microcosmos isolados, heróis e mitos para alguns e não para outros, panelinhas como a minha, como a tua, como a de cada um. No meu mundo é difícil compartilhar os sentimentos que tornam uma pessoa digna de verdade. Nunca vou ter tempo de conhecer a maioria das pessoas além da superfície... qualquer um pode ser um idiota, qualquer um pode ser o Quorton ou o Fenriz. Minha cena é o Thiago Splatter tocando comigo todo fim de semana. Minha Cena é o R.Chuck no posto de gasolina onde ele trabalha, e a gente varando as madrugadas ouvindo som no radinho tendo as conversas mais mirabolantes. Só tive tempo pra algumas construções profundas com alguns poucos indivíduos nessa vida. E sinceramente, não dou valor a tantas outras coisas. Não dou valor à essa força toda que o underground nacional tem... seria o mesmo que estar torcendo pra um time... o que esses porras fazem por mim? na minha vida real? Nada além de identificação musical e olhe lá. Sei que como eu, muitos se sentem assim nesse exato momento, isolados em seus mundos... e nunca precisarão me conhecer, manter contato, ou sequer ouvir minha banda para estar sentindo a mesma essência. Isso é o que acontece.
Mas eu entendo que o que você queria saber não é nada disso, né. A cena no Brasil sempre foi e é rica em sons fodas, sempre me surpreendo. Muitos lá fora também ficam surpresos com a quantidade boas bandas daqui. Tem gente lá fora que dá mais valor ao que é produzido aqui que os próprios brasileiros. Os selos estão sempre caçando as bandas daqui... em busca dos mitos que eles ouviram em boatos e lendas que chegam ao exterior. A produção é abundante e isolada, ninguém consegue cuidar de uma banda tão facilmente, somos todos uns fudidos. Não temos dinheiro pra trocar tanto fisicamente pelo correio, nem pra distribuir com qualidade e eficiência industrial. Então isso está fadado a ser para sempre uma atividade cultural underground... ou seja, feita para atender às necessidades culturais locais, sentimentos de pequenos sub-grupos e tal... Daí existe o facebook, que é um fotoground de anuncios e vinculações, troca de valores simbólicos, etc... TODOS estamos lá... mas eu me incomodo com a idéia de UNIDADE que as pessoas tem criado lá... Elas se sentem bem em se associar massivamente por uma rede imaginária. Sentem que são um só, mas não são. As coisas tem tomado o rumo que tem que tomar, não vou ficar reclamando... Vou continuar ouvindo: Sarcofago, Mystifier, Apokalyptic Raids, In Memorian, Grave Desecrator, Poeticus Severus, Demonthor, Sovereign, Primordial Idol, Draugurz, Thorny Woods, Impetuoso Desdém, Movarbru, Mausoleum, Amazarak, Intelectual Moment, Miasthenia, Mythological Cold Towers, Songe d' Enfer, Nocturnal Worshipper, Geheimnis... Tem cada coisa tão perfeita de ser ouvida por estas terras, que eu nunca precisarei dar play em nada mais ou menos. Agora você pense nos indivíduos que formam essas bandas... eles nem precisam estar todos juntos, serem amigos ou se conhecerem para compor o que podemos chamar de "cena"... Essa união toda é um idealismo que está na cabeça de alguns que só vêem força na quantidade, na massificação dos produtos culturais como símbolo do acerto... coisa de time, como eu disse antes.

8 – O Velho tem um som muito, muito característico. se possível, pode falar um pouco sobre os equipamentos que vocês usam para chegar ao som ideal?
Não usamos nada de tão especial, nem uma porrada de pedais analógicos, nem parafernália de aficcionados por equipamentos musicais. Todo som acaba sendo único... nenhuma gravação consegue ficar igual a outra... nem se for tudo feito no mesmo lugar, produzido pelas mesmas pessoas. Atualmente, como acabamos de fazer em "Senhor de Tudo", podemos gravar, mixar e masterizar por nossa conta, sem gastos com estúdio e engenheiros de som. O Rafael Lopes, nosso baixista, é que cuida dessa aparelhagem de captação e pós-produção do som. Por falta de tempo é que não estive presente quando ele andou mexendo no que gravamos, o Splatter ficou do lado dele um dia inteiro, deu uns toques e tal. Fiquei muito satisfeito com o trabalho dele... o cara manja de música. Os timbres e a equalização de cada instrumento tão na linha do que queremos... remetem às cavernas de onde viemos. Se deixassem essa parte na minha mão... eu iria exagerar... colocar reverb no vocal até o talo e a guitarra iria ser aquela chiadeira abelhenta tipo Dark Medieval Times, haha. Por isso eles não deixam eu dar muita ideia na pós-produção, tenho ideias absurdas e extravagantes.

10 - Após todo trabalho e dedicação a banda, desde o inicio até os dias atuais, o que vocês dizem sobre todo esse caminho que percorreram e qual a mensagem de vocês deixam para
os seguidores do Velho?

Eu gostaria muito de agradecer ao espaço que o blog SOLDADOS DO INFERNO proporcionou para que eu largasse meu ódio e as coisas que eu penso. Essa foi a primeira vez que fomos entrevistados, gostei de ter que, pela primeira vez, ter refletido sobre todos estes temas pra escrever. A todos que ouviram nossos ecos e tem acompanhado esses nossos primeiros passos, Obrigado pela força que temos recebido de todos!!! HAIL ChAOS!

- Esta entrevista foi realizada por: Bruno(Don The Blasphemer) e Emerson(Butcher) ao Soldados do Inferno. Agradecemos a visita de todos, continuem visualizando nossas atualizações. Até a próxima!

Links: Myspace


4 comentários:

  1. entrevista foda com o pessoal do VELHO e obrigado ao Velho por lembrar do Geheimnis , sempre lutaremos lado a lado . HAIL

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  2. Banda foda...Já tocaram em dois eventos que produzi aqui no RJ...

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  3. Legal Velho, estou acompanhando seus passos no "Facebook", continue maneiro sempre e melhor a cada dia, ou pior a cada dia! Força feras, vocês são demais!

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  4. me identifiquei com o que ele falou sobre cena. o ideal é cagar e andar pra essa parada, e focar só no que agrada aos próprios ouvidos. só quanod eu era mais jovem e imaturo eu me importava com essa parada de cena, por causa disso corri risco de vida ate. uma vez um babaca daqui da cena do rio de alguma banda que desconheço chegou pra mim num show muito agressivo falando ''compra o cd da nossa banda, voce não apoia a cena? tem que comprar'' com certeza era psicopata, e fiz um estudo sobre psicopatia, sendo que eu ja convivi durante muitos anos com um psicopata no circulo social que eu fazia parte, e descobri que eles são 4% da humanidade. é impossível ter vida social sem lidar com eles, e sendo o VELHO uma banda que fala de misantropia, eles não poderiam ser caras totalmente ligados À cena. o ideal é cagar e andar mesmo, eu hoje em dia não vou mais em shows, ate compro cds de bandas de metal(com exceção dessas bandas mega famosas), mas shows não me interessam mais, compro cds pois sou colecionador, ano passado eu comprei o DARKNESS DESCENDS do DARK ANGEL.

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